Memórias da primeira chegada ao Luau

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Mark wood

Caros confrades,

Como é do vosso conhecimento, fui convidado a deixar Luanda para iniciar a segunda presença dehoniana em Angola. Esta nova presença será no interior de Angola, na Província de Moxico, precisamente na Missão de Luau, Diocese de Luena. Esta missão fica a apenas 12 km da fronteira com o Congo. Depois enviarei mais elementos sobre esta missão. Se tudo corresse como estava programado, deveria passar a quadra natalícia em Luau.
No dia 22 de Dezembro viajei para Luena que é a capital da Província. Mas devido a alguns problemas relacionados com dois carros da diocese, um dos quais estará ao serviço da Missão de Luau, os nossos programas tiveram que ser alterados. Em primeiro lugar, não foi possível transportar os carros por avião de Luanda para Luena; em segundo lugar, apareceram outros problemas que apresentarei daqui a pouco. Como o Pe. Jójó, padre diocesano de Luena, não trouxera os carros, as coisas complicaram-se.
O bispo resolveu a situação emprestando-nos o seu carro para a viagem. Depois de arrumar as nossas bagagens no carro, por volta das 17.00 horas do dia 24 de Dezembro partimos para a nossa viagem. Este fim de dia ainda nos reservava algumas surpresas. A primeira delas tem a ver com as chaves da casa de Luau. Quem ficou com as chaves, aquando da última visita, foi um seminarista. Começou o corre-corre atrás do seminarista. Onde localizar o dito cujo? – perguntou o Pe. Jójó. Talvez na sua casa, respondeu o mesmo. Passámos pela sua casa, mas não estava em casa e ninguém sabia onde, fora. A solução poderia passar por um telefonema, mas o telemóvel estava desligado. A única hipótese foi dar uma volta pela cidade, pois ele saíra de motorizada. Felizmente encontrámo-lo num cruzamento, mas infelizmente, enquanto fizemos inversão de marcha, o rapaz desapareceu de novo. Pouco tempo depois, após uma perseguição à americana a alta velocidade, localizámos o jovem e conseguimos falar com ele. Infelizmente não tinha a chave, deixara-a em casa. Combinámos que iria buscar a chave e nós aguardaríamos a chave na casa de um dos familiares do Pe. Jójó.
Chegados a casa dos familiares do Jójó, deixámos uma aspirante das Franciscanas que viajava connosco para Luau no carro e entrámos para beber uma cerveja e comer alguns doces natalícios, pinhões, tâmaras, passas, etc… Estes doces e outros são uma realidade em casa dos familiares do Pe. Jójó, pois dedicam-se à produção e comercialização de bolos e outros elementos de pastelaria. O tempo passava e as cervejas também desapareciam, e o seminarista não aparecia com as chaves. Enquanto bebíamos e falávamos, os familiares do Pe. Jójó terminaram de preparar um caixa de doces para festejarmos o Natal em Luau. Já estava a ficar muito tarde, a viagem seria longa. É necessário partir – disse o P. Jójó. A solução seria levar um martelo para arrombar a porta da casa, mas surge mais um inconveniente: ninguém tinha um martelo para nos emprestar. Aborrecidos por a chave não chegar, despedimo-nos e dirigimo-nos para o carro. Onde estará este seminarista e onde deixara a chave? – perguntou o P. Jójó. Respondeu a jovem que ficara no carro: estão aqui as chaves, ele passou por aqui pouco tempo depois de vocês entrarem em casa. Parece impossível, nós a fazer tempo lá dentro e as chaves aqui – disse o P. Jójó. Finalmente iniciámos a nossa viagem, que terminaria pouco tempo depois.
Se tudo corresse bem, chegaríamos a Luau por volta das 24.00 horas. Após duas horas de viagem, o carro começou a dar sinais de ter algum problema. Não conseguia passar dos 40 km/h. Com esta velocidade chegaríamos a Luau lá pelas 5 ou 6 horas da manhã. Parámos o carro e decidimos regressar a casa. Era demasiado arriscado continuar a viagem com esta velocidade, pois corríamos o risco de ficar no meio da floresta. Para nos animar bebemos um gole de whisky (não tínhamos copo) e regressámos a casa. Quando chegámos a casa já tinham terminado as cerimónias de Natal e estavam a jantar. Bati à porta do refeitório e perguntei se esta era a Missão de Luau. Ficaram todos admirados pelo nosso regresso.
O problema do carro não desenvolver deveu-se ao facto de o combustível estar misturado com água. Tivemos que retirar todo o combustível e mudar os filtros.

Como esta viagem foi cancelada, o Pe. Jójó voltou a Luanda, pois um amigo prometeu-lhe lugar num avião para trazer um carro. Depois de regressar a Luanda, as coisas complicaram-se, passou uma noite no aeroporto e à última da hora, quando o carro deveria entrar no avião de carga, surgiu um imprevisto: o carro da diocese tinha que ficar em Luanda pois um general deveria transportar o seu carro. O pobre Pe. Jójó, mais uma vez, voltou a Luena sem carro. A nossa viagem ficou adiada para o ano novo, para o dia 4 de Janeiro.

4 de Janeiro de 2005. O dia começou bem cedo. Eu levantei-me às 2.15h da manhã para me preparar para a partida para Luau. Por volta das 3.00h comecei a minha primeira viagem a Luau. Viagem que fica para a história da Congregação, porque serei o primeiro dehoniano a visitar e a trabalhar nesta missão. Antes de mais, é importante apresentar os passageiros que me acompanharam nesta viagem: o Sr. Bispo, que mais uma vez fez questão de me acompanhar e apresentar à comunidade; o Pe. Jójó; as irmãs canossianas Maria e Rosa; a Dona Conceição, amiga e colaboradora da paróquia da Sé, e a sua irmã Tété. A previsão anunciada pelo piloto desta nave para a nossa viagem era de 8 horas para fazer 300 km. Portanto, partindo às três horas, chegaríamos a Luau por volta das 11.00 horas da manhã. Os primeiros 50 km são péssimos. Depois temos 40 km de estrada muito boa. A restante estrada é menos boa, apenas temos de vez em quando um troço menos mau. De salientar que antes de entrar em Luau temos um pequeno troço de estrada alcatroada e em bom estado, mas não chega à cidade. No começo deste troço de estrada alcatroada temos a primeira aldeia que tem o nome de Progresso. No regresso parámos nesta comunidade.
Por volta das 11.30 horas chegámos ao centro de Luau. Como cartaz de boas vindas temos dois sinais de perigo: o primeiro, um triângulo de aproximação da linha-férrea; o segundo, depois de atravessar a linha, dois triângulos iguais, um à direita e outro à esquerda da estrada, ambos a assinalar a existência de minas. O bispo dizia que seria azar a mais ser, neste momento, atropelado pelo comboio, que há muito tempo não funciona. Quando escrevi a crónica pensei que é preciso ter azar se, depois de sair da estrada, acertar numa mina. Infelizmente, muitos perdem a vida ou ficam mutilados desta forma. Luau, infelizmente, ainda está minado. É necessário ser muito prudente. O que nos aconselham é não sair da estrada.
Luau superou todas as minhas expectativas. É muito grande, com uma rede viária interna muito bem arquitectada, apesar da maior parte das ruas serem em terra. Ao entrar na cidade temos uma avenida com duas faixas de rodagem de cada lado, e um jardim ao meio. Neste jardim temos relva natural, erva que há muito tempo não é cortada. Os postes eléctricos, alguns decaídos, mostram os tempos áureos desta localidade.
A primeira paragem em Luau foi na futura casa das Irmãs Franciscanas. A segunda paragem foi para perguntar a um polícia se o administrador de Luau estava em Luau. Para nossa alegria disse-nos que se encontrava na sua casa. Dirigimo-nos para a sua casa onde o encontrámos muito sorridente na sua varanda. Deu-nos as boas vindas e convidou-nos a entrar para conversarmos algum tempo.
Sabíamos que o dia 4 de Janeiro é feriado em Angola. Para nossa surpresa, o administrador disse-nos que também é feriado no Congo. As fronteiras estão fechadas. Como tínhamos a intenção de visitar o Congo, para saber se as telhas para a igreja já tinham chegado à aldeia que faz fronteira com Luau, manifestámos o desejo de atravessar a fronteira.
Enquanto o administrador tentava telefonar para a responsável do serviço de fronteiras do Congo, para nossa sorte chegou o responsável pelo serviço de fronteiras de Luau a casa do administrador. Este, a pedido do administrador, acompanhou-nos até ao outro lado da fronteira. Enquanto que eu e o bispo falávamos com o padre desta aldeia, os restantes viajantes foram comprar alguns tecidos na aldeia.
Enquanto conversávamos, chegaram umas irmãs que estiveram em Luena na semana passada. Vieram cumprimentar o bispo e oferecer-lhe duas galinhas. O padre mandou preparar o almoço para nós. O Pe. Jójó chegou pouco tempo depois e fez o obséquio de provar a comida que depois foi partilhada por alguns de nós. O menu servido constava de funje com peixe seco muito picante. Ainda bem que tínhamos um Simba, marca da cerveja local. Após as despedidas, tencionávamos regressar a Luau, pois já se fazia tarde e ainda nos esperava uma longa viagem de regresso. Mal saímos de casa do padre, um dos pneus do carro estava furado. Mãos ao trabalho, em pouco tempo resolvemos este problema. Pouco tempo depois, já estávamos a almoçar na nossa casa em Luau. Após o almoço que foi servido depois das três horas, arrumámos as nossas bagagens e dirigimo-nos apressadamente para a igreja. Antes de partirmos para a longa viagem celebrámos a eucaristia que foi presidida pelo Sr. Bispo e concelebrada por mim e pelo Pe. Jójo. No fim disse algumas palavras ao nosso futuro povo.
Antes de cair a noite, deixámos esta vila na esperança de voltar quanto antes. Os cristãos pediram-me para não demorar muito.
Quando chegámos à aldeia do Progresso, onde fizemos a primeira paragem, já estava escuro. Cumprimentámos apenas as pessoas. Estas, por sua vez, tinham uma oferta para o bispo e para o padre novo que tinham preparado para o ofertório da missa de Natal. O bispo pediu para a irem buscar. Imaginem o que era. Uma cabra prenha. Com o carro completo, onde meteríamos a cabra? Dissemos que neste momento não poderíamos levar a cabra. Ficava na aldeia a cargo do catequista. Na brincadeira, o bispo disse a todos para decorarem a cores a cabra, para não se esquecerem que ela assim como os seus descendentes pertencem ao bispo e ao novo padre. Após um cântico de despedida continuámos a viagem, na esperança de chegarmos a casa à hora prevista.
Sensivelmente a meio da viagem, no município de Muconda, realizámos a segunda paragem. O objectivo era apenas cumprimentar o administrador deste município que é muito amigo do Sr. Bispo. Contudo, o administrador convidou-nos a entrar na sua casa para beber uma cerveja. Pouco tempo depois, manifestámos o desejo de partir pois ainda tínhamos mais algumas horas de viagem para chegar a casa. Partimos, convencidos que esta seria a última paragem da nossa viagem. Poucas horas depois, o carro começou a manifestar alguns problemas na válvula que dá acesso à passagem do tanque principal para o suplente. Por precaução e devido à falta de gasóleo, a maioria dos carros vêm equipados com dois tanques. Assim, este carro com os dois tanques cheios tem capacidade para 140 litros.
O inesperado aconteceu, o carro deixou de funcionar. De mecânica infelizmente pouco sabemos. No entanto, partilhamos o pouco que sabíamos. O primeiro passo foi tentar a ignição por empurrão; não deu sinais de vida. O segundo foi abrir os filtros, nada feito; as chaves que tínhamos não serviam e as roscas dos parafusos estavam demasiadas gastas. O terceiro passo consistiu em ligar o tubo do combustível directamente ao motor; o carro não dava sinais de vida. Na quarta tentativa puxámos o combustível no tubo que traz o combustível para os filtros; nem uma gota saiu. Primeira conclusão: o combustível não chega aos filtros.
Para descontrair um pouco, uma irmã, na sua inocência, disse: porque é que o carro não geme? Se gemesse, pelo menos sabíamos onde está doente. Como era de esperar todos se riram; alguns ficaram com dores de barriga de tanto se rirem.
Quinta tentativa: como o gasóleo não chega aos filtros, significa que a válvula de passagem de um tanque para o outro não está a funcionar. Eu disse: assim sendo, podemos tirar o combustível de um tanque para o outro, destapando o bujão que se encontra no fundo do tanque. Boa ideia, responderam os outros. Ao trabalho, deitei-me debaixo do carro e tentei abrir o bujão, mas mais uma vez as chaves que tínhamos eram mais pequenas, logo não serviam. Como a esperança é a última coisa a morrer, passámos à sexta tentativa, que consistia em tentar tirar o tubo que sai do tanque, a fim de retirar o gasóleo. Consegui a primeira parte, a segunda foi impossível, pois o tubo era demasiado pequeno, não conseguia chegar com a boca ao tubo. Coloquei o tubo no sítio e, já com dores nas costas, saí de debaixo do carro. Nada feito e as hipóteses de colocar o carro a andar eram remotas.
Bebemos uma cerveja na esperança de sermos iluminados por alguma ideia. Nem a cerveja nos iluminou. No entanto, não cruzámos os braços, passámos de imediato à sétima tentativa, outra vez para debaixo do carro. Abri de novo o tubo de ligação ao tanque, dei-lhe algumas voltas e, com muito esforço, consegui chegar com a boca ao tubo. Puxei mas nada veio, desviei o tubo para o outro lado e tentei puxar de novo, desta vez veio com muita força, uma parte caiu no chão, outra engoli. Pedi uma garrafa, mas surgiu mais um problema: onde ir buscar uma garrafa vazia? As únicas garrafas vazias eram as das cervejas. Deram-me uma garrafa vazia, mas depois de puxar de novo no tubo do gasóleo este não deitava nem uma gota. Mais uma tentativa abortada. A solução foi colocar o tubo no lugar. Nada a fazer. Oitava tentativa. Mais uma pergunta: será que queimou algum fusível? Verifiquei todos os fusíveis mas nenhum estava queimado. A única solução é esperar que algum carro passe por ali. Enquanto esperávamos, como em Luau tinham preparado comida para o nosso jantar, comemos alguma coisa. A solução depois do jantar foi mesmo pernoitar no carro.
A irmã Maria foi a primeira a acordar, eram 5 da manhã e estava contente porque viu o nascer do sol. Só duas horas mais tarde passaram 4 jovens de bicicleta. Estivemos parados 12 horas e neste tempo só passaram bicicletas. Tínhamos que mandar recado por estes jovens para os padres que trabalham a 30 quilómetros de onde estávamos. Os jovens, para nos animar, disseram que, se tudo corresse bem, por volta das 10 horas da manhã estariam na casa dos padres. Eles partiram, e cada um de nós para o seu lado procurou deitar-se à sombra das poucas árvores existentes, ou então dentro do carro. Ainda tínhamos a esperança que, entretanto, passasse algum carro, mas naquela bendita estrada só passavam bicicletas. Por volta das 9 horas passaram duas motas em sentido contrário. No entanto, disseram que dentro de pouco regressariam. Na verdade, regressaram pouco tempo depois e levaram eles também o pedido de socorro. Por volta das 11.30h chegaram os padres com algum gasóleo. Nós perguntámos se tinham encontrado os motards e eles responderam que estavam parados a poucos quilómetros com um furo. Também esses não estavam com muita sorte.
Depois de despejar o gasóleo, tentámos colocar o carro a trabalhar, mas surge mais um pequeno problema: a bateria estava fraca. Como tínhamos uma arca que dá para ligar ao isqueiro e aquecer a comida, gastámos a bateria a aquecer o jantar. A solução foi realizar a primeira tentativa de colocar o carro a trabalhar (ainda se lembram? Eu recordo-vos, foi a de empurrar o carro…). Mas desta vez, para alegria de todos, o carro começou a trabalhar. Após 12 horas de descanso, retomámos a nossa viagem para Luena. Ainda nos esperavam 3 horas de estrada, que é o pior troço de estrada. Finalmente, por volta da 14.00 horas, chegámos à nossa querida casa.
Estes são os riscos que temos que ultrapassar com muita calma. Procuramos não desanimar pois o que não fizermos hoje, teremos de certeza outros dias para o fazer. Tempo não falta, graças a Deus, neste país.

Um abraço para todos

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